Desde a falência inesperada da bolsa de criptomoedas FTX em 11 de novembro, o espaço criptográfico tem tentado jogar o jogo da transparência.
A empresa entrou em colapso em poucos dias diante de saques maciços de seus clientes, depois de ter sido avaliada em US$ 32 bilhões em fevereiro.
Como isso é possível, perguntam investidores e reguladores?
Na tentativa de ganhar a confiança do público em geral, os rivais da FTX, que em sua maioria não são regulamentados, vêm tentando nos últimos dias jogar o jogo da transparência. Isso envolve a publicação do que eles chamam de relatórios de comprovação de reservas.
O objetivo é provar que, para cada dólar de cliente e investidor mantido na forma de criptomoeda, ele tem um dólar equivalente de reserva em outro ativo, caso o cliente queira seu dinheiro de volta. A ideia é mostrar também que não fazem mau uso do patrimônio dos clientes, algo do qual a FTX é acusada.
Auditorias problemáticas A Binance, a maior exchange de criptomoedas do mundo em termos de volume, e a Crypto.com publicaram recentemente os chamados relatórios de comprovação de reservas, auditados pela prestigiada firma Mazars Group, antiga firma de contabilidade de Donald Trump.
Os relatórios da Binance foram ridicularizados nas redes sociais porque mostraram que as informações incluídas foram cuidadosamente selecionadas pela empresa. Em vez da transparência que o público em geral esperava, o grupo optou por publicar as informações que lhes convinham.
Apenas alguns dias após a publicação desta auditoria, a Mazars anunciou em 16 de dezembro que cortou os laços com todas as empresas de criptografia.
A Mazars disse, em comunicado por e-mail, que “interrompeu sua atividade relacionada ao fornecimento de relatórios de comprovação de reservas para entidades do setor de criptomoedas devido a preocupações com a forma como esses relatórios são entendidos pelo público”.
A empresa disse que seus relatórios de prova de reservas são “realizados de acordo com os padrões de relatórios relevantes para um relatório de procedimentos acordados”.
“Eles não constituem uma garantia ou uma opinião de auditoria sobre o assunto. Em vez disso, eles relatam descobertas limitadas com base nos procedimentos acordados realizados sobre o assunto em um ponto histórico”, continuou a declaração.
Cripto vs. CDS Para o lendário investidor Michael Burry, esse é o problema. Para ele, não se deve acreditar em nenhuma auditoria publicada pela Binance, FTX e outras empresas de criptomoedas. Ele explica que o que acontece com as criptomoedas o lembra do que aconteceu com o Credit Default Swap: os auditores do CDS não entenderam completamente esses produtos, então não puderam realmente avaliar o risco por trás deles.
Esse é o caso hoje da indústria de criptomoedas, diz Burry. Portanto, qualquer coisa que eles possam dizer sobre o assunto tem pouco valor. É inútil, disse Burry.
“Esse é o problema”, disse Bury, fundador da Scion Asset Management, referindo-se a um artigo da Bloomberg que afirmava que a Mazars está interrompendo todo o trabalho com empresas de criptomoedas. “Em 2005, quando comecei a usar um novo tipo de swap de crédito, nossos auditores estavam aprendendo no trabalho. Isso não é uma coisa boa. O mesmo vale para FTX, Binance, etc.”
Ele acrescentou: “A auditoria é essencialmente sem sentido”.
Burry, cujas mensagens muitas vezes enigmáticas são tomadas como evangelho por muitos investidores individuais nas redes sociais, não deu mais detalhes. Seus comentários são um novo golpe para a indústria cripto, cuja credibilidade despencou completamente desde a falência da FTX. Quatro dias antes da falência, seu fundador, Sam Bankman-Fried, afirmou que os ativos da FTX estavam “bem”.
A crise financeira de 2008, um dos maiores desastres financeiros da história, fez de Michael Burry uma lenda.
Isso fez dele um dos exemplos a seguir no desafio das práticas padrão nos círculos financeiros. O filme “The Big Short” de 2015 descreve como o investidor, que não tinha nenhuma especialização em finanças e imóveis, percebeu que o setor havia se tornado um castelo de areia, com financiadores e banqueiros criando produtos exóticos com base em hipotecas concedidas a famílias financeiramente frágeis e mutuários com crédito ruim.
Ele, portanto, decidiu apostar no colapso do mercado de hipotecas subprime, daí o nome “Big Short”. A história provou que ele estava certo.
Fonte: https://www.thestreet.com/investing/cryptocurrency/big-short-burry-says-crypto-has-a-problem-similar-to-the-subprime-crisis?puc=yahoo&cm_ven=YAHOO&yptr=yahoo