Como Pelé, Lula pode refazer o Brasil e preservar suas florestas tropicais

O mundo está de luto pela morte de Pelé - uma estrela do futebol brasileiro que cresceu na pobreza e se tornaria um Embaixador da Boa Vontade para a Cúpula da Terra da ONU. Pelé marcou 757 gols em sua carreira, conquistando três Copas do Mundo e inspirando inúmeros brasileiros. Agora o Brasil tem um novo herói da classe trabalhadora e orgulho da população indígena do país: Lula da Silva, que assumiu a presidência do país em 1º de janeiro.

Lula derrotou por pouco Joir Bolsonaro, que deixou os madeireiros e fazendeiros atropelarem as vastas florestas tropicais do país e o lar dos índios. Essa destruição foi mortal para a vida selvagem e o habitat natural. Mas isso levou a mais emissões que retêm o calor, levando o meio ambiente global a seu ponto crítico, onde inundações e secas podem se tornar comuns. Lula prometeu reverter essa tendência. Pode ele?

“A produção de soja cria uma tensão entre floresta e agricultura, impactando negativamente os povos indígenas e produzindo mais gases de efeito estufa. A imperfeição do mercado significa que a população indígena não recebe compensação adequada por salvar as árvores e armazenar carbono, diz Emílio Sempris, ex-ministro do meio ambiente do Panamá de 2017 a 2019, em entrevista.

Ele acrescenta que as terras agrícolas do Brasil são do tamanho do Panamá. Mas os agricultores cortam as árvores que aspiram o CO2 da atmosfera. Embora a exploração madeireira e a agricultura produzam lucros de curto prazo, elas erodem a biodiversidade e perturbam a vida dos povos locais.

“O carbono é um proxy para todo o ecossistema, diz Sempris. “A soja tem mais valor econômico no curto prazo, mas no longo prazo impacta o Brasil e o meio ambiente local. Lula tem a oportunidade de consertar as coisas implementando um esquema financeiro nacional para ajudar as comunidades indígenas”.

Agência Espacial Nacional do Brasil diz que sob Bolsonaro, o desmatamento da Amazônia aumentou 60%. Isso ajudou a levar a um aumento de 12.2% nas emissões de gases de efeito estufa do país em 2021, o maior em duas décadas, acrescenta o brasileiro Observatório do Clima. Precisamente, o desmatamento na Amazônia foi responsável por 77% dessas emissões de CO2: a demolição da floresta brasileira causou 1.19 bilhão de toneladas brutas de CO2 no ano passado, mais do que no Japão.

“Se os governos responderem turbinando os investimentos em energia limpa e plantando, e não cortando, árvores, as emissões globais podem cair rapidamente”, diz Pierre Friedlingstein, cientista climático da Universidade de Exeter, no Reino Unido. Para cada tonelada de CO2 emitida, metade fica na atmosfera enquanto florestas ou oceanos armazenam a outra metade.

Os créditos de carbono podem salvar o dia?

A principal preocupação é que o desmatamento, as temperaturas mais altas e as secas limitam a capacidade das florestas tropicais de absorver carbono. É por isso que é imperativo incentivar os proprietários de terra e os povos indígenas a manter as árvores. Na verdade, eles devem valer mais do que os custos de oportunidade – o valor econômico da agricultura ou da extração de madeira.

Antes de Bolsanaro chegar ao poder em 1º de janeiro de 2019, o Brasil estava diminuindo o desmatamento. A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCC) o reconheceu no âmbito do programa REDD+, onde os governos estabelecem metas para reduzir o desmatamento. A UNFCC avalia seus resultados e aprova as reduções de emissões. Mas Bolsanaro optou por não seguir o rigoroso processo, permitindo que fazendeiros e desenvolvedores derrubassem e queimassem as florestas – um retorno mais rápido, mas mais caro a longo prazo.

Entra Lula, que vai revigorar o programa REDD+ do Brasil e dar ao país uma chance de lutar contra o desmatamento. Ele também está inspirando a República Democrática do Congo e a Indonésia, que possuem extensas florestas tropicais. Os três países contribuem com 58% das emissões globais de mudanças no uso da terra, diz o professor Friedlingstein.

No entanto, o desafio permanece: o preço dos créditos de carbono e a compensação resultante devem ser maiores do que as alternativas. William Nordhaus, professor de economia da Universidade de Yale, escreve que o custo social do carbono para a sociedade foi de US$ 31 em 2015, mas aumentará para US$ 52 em 2030.

As florestas tropicais absorvem 7.6 bilhões de toneladas métricas por ano. Os créditos soberanos gerados pelo mecanismo de financiamento de REDD+ aumentarão esse número. Como os governos federais emitem “créditos soberanos” sob o acordo de Paris, ele aumentará o preço e arrecadará mais dinheiro para a preservação da floresta e melhorias na infraestrutura. A cervejaria Ambev, a Vale SA metais e a Petróleo Brasileiro podem estar no mercado para os créditos de carbono do Brasil.

“Apenas um mecanismo global, como o REDD+, reconhecido pela UNFCCC pode salvar a Amazônia – e somente quando empresas e governos começarem a comprar as reduções de emissões que o Brasil criará ao desacelerar o desmatamento novamente com o novo presidente. Então, se você quer salvar a Floresta Amazônica, compre créditos soberanos de carbono REDD+”, diz Kevin Conrad, diretor executivo da Coalizão para Nações com Florestas Tropicais.

Se os níveis atuais de emissões persistirem, há pouca esperança de alcançar a neutralidade de carbono e evitar um colapso climático: aquecimento recorde, inundações maciças e derretimento de geleiras. As florestas tropicais são a solução da natureza para a mudança climática e são mais acessíveis do que as tecnologias na prancheta. Mas as árvores devem permanecer de pé. Lula, do Brasil, promete liderar seu país, lembrando Pelé – um modelo global que deu esperança aos desesperançados.

Fonte: https://www.forbes.com/sites/kensilverstein/2023/01/02/like-pel-lula-can-remake-brazil-and-preserve-its-rainforests/