Neymar Jr lidera as crises de identidade do Brasil à medida que a seca atinge 24 anos

Falando após a chocante derrota do Brasil para a Croácia, um devastado Neymar Jr não estava claro sobre seu futuro.

“Sinceramente, não sei. Acho que falar agora é ruim por causa do calor do momento. Talvez eu não esteja pensando direito”, disse o brasileiro à mídia.

“Dizer que é o fim seria me apressar, mas também não garanto nada. Vamos ver o que acontece daqui para frente.”

As conversas sobre a aposentadoria do jogador de 30 anos não surgem do nada, antes do torneio de 2022, o atacante do Paris Saint-Germain disse que estava pensando em desistir do futebol internacional.

“Acho que a Copa do Mundo do Catar será a minha última”, disse Neymar ao DAZN no ano passado, “não sei se tenho capacidade mental para continuar jogando futebol”.

Desde que surgiu na adolescência, nas mesmas categorias de base de Pelé, o talento precoce tem sido comparado ao maior jogador de todos os tempos do Brasil.

Seu gol contra a Croácia na prorrogação igualou o recorde 'oficial' de Pelé de 77 gols pela seleção, mas no que diz respeito às atuações em Copas do Mundo, Neymar nunca chegou perto do homem que foi campeão em três ocasiões.

O evento de 2026 nos Estados Unidos, Canadá e México seria o quarto de Neymar com a Seleção e, sem dúvida, a última chance de glória.

Seria injusto compará-lo demais com Pelé, já que os lados que a lenda agraciou eram muito superiores.

Os quase erros de Neymar

Em 2014, Neymar foi a estrela de uma equipe brasileira bastante funcional com o objetivo de entregar a coroa no primeiro torneio em casa.

Mas as coisas se complicaram desastrosamente quando ele sofreu uma fratura na vértebra na vitória nas quartas de final contra a Colômbia.

Sem seu talismã, o time passou pela noite mais humilhante de sua história, perdendo por 7 a 1 para a eventual campeã Alemanha.

Na Rússia 2018, as coisas deveriam ser diferentes, impulsionadas pelo novo técnico Tite, o time estava sem dúvida mais competitivo.

No entanto, o Brasil regrediu sem conseguir passar das quartas de final com uma derrota por 2 a 1 para a Bélgica.

O elenco que a Seleção levou para o Catar em 2022 foi meteoricamente melhor que os dois times.

Muitos especialistas os apontavam como favoritos ao título e era difícil discordar, apenas nos zagueiros as opções não eram de qualidade mundial.

Aos 30 anos, Neymar ainda pode ser considerado em seus anos de pico, embora na ponta, outro fator a favor do Brasil.

Talvez seja por isso que a derrota nos pênaltis foi tão brutal para o atacante do PSG, desta vez ele foi apoiado por um time muito mais forte.

“É uma sensação horrível. Acho que é uma sensação pior do que aconteceu na última Copa do Mundo”, refletiu após o jogo.

“É difícil encontrar palavras para descrever este momento. Lutamos e estou orgulhoso dos meus companheiros, orgulhoso do caráter que eles mostraram ao intensificar e cobrar pênaltis”.

Uma pessoa que sabemos que a cortina caiu é o técnico Tite, que renunciou ao cargo após o jogo.

Suas palavras, mais do que as de Neymar, sugeriram que uma reformulação era necessária da potência internacional mais bem estabelecida do futebol.

“É uma derrota dolorosa, mas vou em paz. É o fim de um ciclo”, disse.

“Eu já disse isso há um ano e meio. Não vim aqui para ganhar e depois virar e dizer que ia ficar. Quem me conhece sabe disso.”

Um familiar 24 anos de dor

Saindo de dois torneios consecutivos nas quartas de final, o Brasil se encontra em uma posição idêntica à que estava no início dos anos 90.

A derrota nas oitavas de final no evento de 16 significava que, indo para a primeira Copa do Mundo em solo norte-americano, fazia 1990 anos que o Brasil não vencia.

As atuações irregulares nas mais de duas décadas que se seguiram à vitória de 1970, que foi o terceiro triunfo em quatro edições, não deixaram de ter seu charme.

Os neutros costumavam se impressionar com a verve ofensiva de jogadores como Sócrates, mas a sensação era de que o Brasil muitas vezes tinha um ponto fraco e carecia da tenacidade defensiva grisalha que levou vencedores na década de 1980, como Itália e Argentina, à coroa.

Assim, em 1994, contra a vontade do público brasileiro, Carlos Alberto Parreira construiu uma forte equipe defensiva comandada por meio-campistas diligentes como Dunga.

Não foi bonito, mas, com a ajuda do melhor atacante do mundo na época, Romário, a Copa do Mundo foi entregue.

O craque não gostava dessas táticas na época, mas, refletindo, ele aceita que era a maneira de fazê-lo.

“O Parreira tinha que ganhar a Copa do Mundo, então ele montou o time do jeito que queria”, disse Romário. “Não é necessariamente aquele que os torcedores ou eu gostamos, mas deu certo.”

O sucesso indiscutível em 1994 trouxe o Brasil de volta ao topo do futebol mundial.

A Seleção perdeu na final no evento seguinte em 1998 e recuperou a coroa quatro anos depois em ambas as ocasiões jogando com muito mais talento do que os vencedores de 1994.

Mas desde a vitória de 2002, o time raramente ameaçou, a humilhação por 7 a 1 para a Alemanha foi o mais perto que chegou desde então.

Ao longo do período baroneiro, a crítica é menos de que o Brasil possui um baixo-ventre fraco, e mais de ter esquecido como vencer.

O desempenho monótono na Copa do Mundo de 2010, comandado pelo capitão Dunga em 1994, foi criticado por ser muito conservador.

É um acaso que o Brasil rume aos EUA mais uma vez em busca do seu primeiro título em 24 anos, a questão é qual será a identidade do time?

Confiar em um Neymar de 34 anos seria tolice, mas, como a rival Argentina demonstrou com a estrela Lionel Messi, encontrar uma maneira de maximizar seu maior trunfo pode funcionar mesmo com um talento envelhecido.

Fonte: https://www.forbes.com/sites/zakgarnerpurkis/2022/12/13/neymar-jr-leads-brazils-identity-crises-as-drought-hits-24-years/