Chefe da Petrobras renuncia enquanto Bolsonaro se enfurece com os preços dos combustíveis

(Bloomberg) -- O presidente-executivo da Petrobras, José Mauro Coelho, renunciou após um aumento no preço do combustível que irritou o presidente Jair Bolsonaro e levou a pedidos de uma investigação do Congresso sobre a estatal produtora de petróleo.

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A Petróleo Brasileiro SA, como a empresa é formalmente conhecida, anunciou a saída de seu CEO em comunicado na segunda-feira. Bolsonaro já o havia demitido em maio e nomeado um substituto, mas ele permaneceu no cargo enquanto a empresa passava pelos procedimentos formais para nomear seu próximo presidente-executivo.

A empresa com sede no Rio de Janeiro, que recentemente perdeu o título de empresa de capital aberto mais valiosa da América Latina para a mineradora Vale SA, perdeu cerca de 22 bilhões de reais (US$ 4.3 bilhões) em valor de mercado desde sexta-feira, quando elevou os preços domésticos dos combustíveis, irritando Bolsonaro e seus aliados. As ações preferenciais caíram até 5.1% para 25.91 reais no início do pregão em São Paulo na segunda-feira e depois reverteram as perdas.

O aumento dos riscos políticos compensaram a avaliação barata e os dividendos robustos da Petrobras. Atualmente, a ação está sendo negociada abaixo de 2 vezes o valor da empresa para encaminhar o Ebitda, menos da metade dos múltiplos de 4.6 e 4.4 das gigantes petrolíferas americanas Chevron Corp. e Exxon Mobil Corp., respectivamente, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

“Não esperamos que o ruído desapareça até outubro”, escreveram em nota analistas do Banco BTG Pactual SA liderados por Pedro Soares. “Qualquer pressão futura para aumentar os preços dos combustíveis encontrará uma grande resistência do governo entre agora e o dia das eleições.”

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O presidente do Brasil, que busca a reeleição em outubro, vem criticando publicamente a Petrobras pelo que chama de “lucros abusivos” e demitiu três de seus diretores-presidentes por frustração com os preços de combustíveis no atacado da empresa que acompanham os níveis internacionais. Os preços das bombas e a inflação em geral são uma das principais queixas dos eleitores.

Subsídios e Privatização

Em uma tentativa de aliviar a dor dos consumidores, o governo está pressionando para aumentar a quantidade de subsídios aos combustíveis em debate no Congresso para até R$ 50 bilhões em uma medida que contornaria as restrições de gastos, disseram três pessoas com conhecimento do assunto.

Uma possibilidade é financiar a ajuda com impostos sobre a indústria do petróleo, disseram as pessoas, acrescentando que as autoridades estão estudando como implementar as medidas sem violar as leis eleitorais que proíbem alguns tipos de subsídios antes da votação.

O governo também está buscando planos para diluir a maioria das ações com direito a voto na empresa, convertendo-as em ações ordinárias, disseram as pessoas, pedindo anonimato porque a discussão não é pública. Bolsonaro já havia sugerido privatizar a Petrobras para que o governo não fosse responsabilizado pelas flutuações nos preços dos combustíveis. Qualquer medida relativa à privatização, no entanto, dificilmente acontecerá antes das eleições.

O chefe de exploração e produção da Petrobras, Fernando Borges, assumirá o cargo de presidente interino até que Caio Paes de Andrade seja aprovado pelos acionistas.

A Petrobras deve permanecer no centro das atenções políticas nas eleições deste ano. Bolsonaro disse no sábado que tem o apoio do Congresso para iniciar uma investigação sobre a empresa e sua política de preços. O presidente da Câmara, Arthur Lira, também ameaçou intervir impondo impostos punitivos sobre os lucros recordes da empresa.

“Todas as evidências apontam para uma estratégia intervencionista”, disse Marcelo de Assis, chefe de pesquisa de upstream na América Latina da consultora Wood Mackenzie Ltd. “Isso pode abrir as portas para preços artificiais e, na pior das hipóteses, escassez de diesel”.

(Atualiza a reação do mercado no terceiro parágrafo e todo o histórico)

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Fonte: https://finance.yahoo.com/news/petrobras-head-resigns-bolsonaro-rages-130001397.html