Bukele gera reação por supostas táticas de vigilância

Principais lições

  • Surgiram nesta semana relatos de que o governo de El Salvador pode estar vigiando jornalistas usando o spyware “Pegasus”.
  • Os membros da comunidade cripto agora estão criticando este e outros abusos do governo e de seu presidente, Nayib Bukele.
  • O próprio governo salvadorenho negou envolvimento, embora muitos acreditem que seja responsável com base nas evidências.

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O governo de El Salvador, liderado pelo presidente pró-Bitcoin Nayib Bukele, pode estar vigiando jornalistas com base em relatórios recentes. A notícia gerou reação da comunidade de criptomoedas.

Jornalistas foram vigiados via Pegasus

Durante uma investigação em setembro de 2021, o Citizen Lab da Universidade de Toronto descobriu que 35 jornalistas e cidadãos (com 37 dispositivos móveis) foram infectados pelo spyware “Pegasus”.

O spyware foi usado contra vários meios de comunicação de El Salvador, incluindo Gato Encerrado, A Prensa Gráfica, Revista Digital Disruptiva, Diário El Mundo, El Diário de Hoy, e, principalmente, El Faro.

El Faro disse que sua equipe representava 22 dos funcionários visados ​​e que estava “sob vigilância constante” entre junho de 2020 e novembro de 2021. Também disse que 226 infecções foram descobertas e que dois terços de sua equipe foram afetados.

O spyware Pegasus é capaz de monitorar mensagens de texto, chamadas, senhas e localizações de usuários. Em 11 casos em El Faro, as metas não eram apenas monitoradas; informações foram ativamente roubadas ou extraídas.

O governo é o provável culpado

Acredita-se que o governo de El Salvador esteja por trás dessa atividade. El Faro o diretor fundador Carlos Dada diz que “tudo aponta para o fato de que é o governo salvadorenho o responsável”.

O Citizen Lab, por sua vez, diz que há “evidências circunstanciais que apontam para um forte nexo do governo de El Salvador”.

Esse raciocínio é baseado no fato de que a Pegasus é criada pela empresa de tecnologia israelense NSO Group. Acredita-se que esse grupo apenas venda o produto para governos, e mesmo assim apenas quando autorizado a fazê-lo pelo governo israelense. Pegasus é geralmente usado por esses governos para vigilância interna.

Combinado com o fato de que El Salvador bloqueou algumas das organizações de notícias acima de entrevistas coletivas e as ameaçou com infrações legais, o governo de El Salvador demonstrou disposição para táticas duras contra esses grupos.

Por sua vez, o governo de El Salvador negou qualquer papel na vigilância, afirmando que “não está de forma alguma relacionado à Pegasus e não é cliente do NSO Group”. Além disso, diz que os próprios funcionários do governo foram alvos.

A NSO, por sua vez, há muito tempo afirma ser legítima. Ele diz que só vende software para “agências de inteligência autorizadas e legítimas” e que seu software é usado para prevenir atividades criminosas e terrorismo.

Ainda assim, o Pegasus é geralmente tratado como malware, não apenas por órgãos de fiscalização de direitos, como Anistia Internacional e Access Now, mas também por empresas afetadas, como Apple e WhatsApp.

Notícias atraem a reação do Bitcoin

As notícias de que El Salvador pode estar monitorando jornalistas levantaram preocupações na comunidade de criptomoedas, já que o país se tornou conhecido por adotar o Bitcoin ao aprová-lo como moeda legal.

Além disso, o presidente Bukele frequentemente se apresenta como um membro experiente da comunidade de criptomoedas ao “comprar o mergulho” ou comprar criptomoedas a preços baixos. Ele também usou o Bitcoin para fins altruístas, como construir novas escolas e aproveitou a energia vulcânica limpa para alimentar as operações de mineração do Bitcoin.

Agora, essas ações benevolentes podem ser ofuscadas. David Z. Morris, da Coindesk, escreveu que, se as acusações desta semana forem verdadeiras, “o governo Bukele não pode mais ser considerado um parceiro confiável” para a comunidade Bitcoin.

Em suma, as políticas de vigilância do país vão contra os objetivos e valores da comunidade de criptomoedas, que visa fornecer privacidade, segurança e liberdade de intervenção do governo.

A comunidade criptográfica é parte do problema?

Em outros lugares, os críticos do Bitcoin acusaram a própria comunidade de criptomoedas de fazer parte do problema. Cas Piancey, co-apresentador do podcast Crypto Critics' Corner, observou a ironia em Bitcoiners defendendo transparência e liberdade "mas apoiando totalmente um ditador da América Central que planta bugs em jornalistas que ele não gosta".

De fato, as táticas de braço forte de Bukele – como sua ocupação armada do Congresso e suas tentativas de demitir juízes idosos – eram amplamente conhecidas quando o país adotou a criptomoeda no ano passado. O criador do Ethereum, Vitalik Buterin, também criticou Bukele e seus apoiadores no ano passado, chamando a política de adoção do país de “imprudente” e criticando certos maximalistas do Bitcoin por seu apoio acrítico a Bukele.

A conduta online de Bukele também levantou suspeitas: no ano passado, ele classificou seu perfil no Twitter de forma questionável como o “ditador mais legal” do mundo e atualmente se autodenomina “CEO de El Salvador” nessa plataforma. Com as notícias desta semana, o Access Now destacou que Bukele permitiu o assédio de jornalistas online.

No entanto, esses incidentes não diminuíram as respostas positivas à busca contínua de Bukele pelo Bitcoin. Resta saber se as acusações desta semana serão suficientes para manchar sua imagem aos olhos da comunidade de criptomoedas.

Valor dos investimentos em Bitcoin questionado

A notícia vem dias depois que outros questionaram se o investimento de El Salvador em Bitcoin manterá seu valor monetário.

Desde setembro de 2021, o país comprou 1,391 BTC, um valor que atualmente vale US$ 60.2 milhões. A Bloomberg informou em 12 de janeiro que as compras de El Salvador provavelmente caíram 14% em relação ao valor inicial de US$ 71 milhões.

A Moody's também disse à Bloomberg que as participações em Bitcoin do país “aumentam [seu] portfólio de risco” e são uma escolha questionável para uma nação que passou por problemas de liquidez em sua principal economia.

Divulgação: no momento da redação, o autor deste artigo era proprietário de BTC, ETH e outras criptomoedas.

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Fonte: https://cryptobriefing.com/bukele-draws-backlash-for-alleged-surveillance-tactics/?utm_source=main_feed&utm_medium=rss